XI.

O que em sua casa não poderia entender era o empenho de todos em vendar goteiras. Chover dentro de casa era como furar o olho que suga a noite para não havê-la. A noite lá fora, sempre lá fora. Em sua infância, só a permitiam o durante o dia. Mas ela sabia que, mesmo lá fora sob as estrelas, havia um olho-moinho sugando a noite de suas mãos. Uma vez, com seu constante ar de galhofa filosófica, seu tio disse “É que à noite a alma também é corpo”. Seu tio profetizava essas coisas, olhou para as paredes da casa e viu, antes que existissem nas paredes, imensas rachaduras; e de fato, elas nunca apareceram. Profeta pode ser também aquele que lê, nos olhos de um menino, o silêncio.