XII.

Obsessão por esferas, essa dela. Sonha em círculos, fala em círculos. Deve ser por atavismo que isso em nela se instalou. Quando não sabe explicar algo, apela para Deus. Sabe que passa dias pensando uma vírgula, sabe que passa o dia pensando a morte. É uma engenharia constante o seu cotidiano. Tem o hábito de não se endereçar a ninguém sem antes analisar a textura do silêncio ao fundo do que dirá. Diz que é a partir da fotografia que se reconstitui o negativo, e a partir do negativo que se reconstitui o real da imagem, e a partir disso reconstitui-se o que o canto do olho pode revelar. Então, é ir e voltar num percurso circular até a certeza do que emana da imagem – cuidado com a luz mínima. Essa é a grafia mais perigosa.