VIII.

Onde está não é só um quarto. Tem também a gaveta de guardados. Tem as coisas que ficam lá, sem porquê ou no entanto. Coisas que guarda simplesmente pelo ato de guardar. Houve um tempo que acreditou ser possível guardar – por exemplo, guardar segredos. E desguardar – por exemplo, a completa desdobrabilidade de um origami. Há em Alice, ao menos e ainda, um leve odor desse sonho de guardar. Soube, certa vez, de um homem que decidiu escrever toda sua vida no momento mesmo em que ela estava acontecendo; então, criou o seu livro. Uma certa crença de guardar é necessária para as possibilidades biográficas, para que as palavras substituam o tempo. Agora pensa também a construção de uma loucura própria, aquela que a vem. “O que uma loucura guarda?”, se pergunta, e logo responde “Guarda nada, mas pode ser também qualquer coisa. Guardado, o cheiro dos sonhos se torna mais concreto”. Sua gaveta de guardados é uma precaução, dessas que mãe imprime na gente, só que disfarçada.