VI.

Quase noite, nuvens meditam os seus ossos, está perdida em certa paisagem – a ranhura das palavras traz vestígios das texturas de um corpo. Está com fome, está conforme ao barulho do estômago. Sabe que é estranho se fazer em palavras e se enviar e ser abrangida por olhos e se tornar matéria que alimente os continentes mais insólitos do seu pensamento. Mas nada disso ocorrerá, suas palavras se organizam em torno da ausência definitiva de alguéns. Não tem pra onde enviar a carta e, na verdade, não quer mais ver, nem mesmo por intermédio de papel e palavra. “Por que escrevo?”, se pergunta, e logo em seguida se auto-responde “Para constituir um outro, tramitar os meus rumores e até uma pátria que me seja estranha e me ensine a morrer, ser menos eu para morrer menos. Escrevo-me para me livrar da tirania de ser eu. Escrevo porque devo criar um caminho pra existir entre os homens”.
Não sebe caminhar os caminhos dados. É menos rebeldia do que inaptidão.