V.

Não acredita mais na mediação dos relógios, mas ainda não perdeu a fé na chuva. Em casa, é mais só. Em carta, é outra, e também nela está só. Em casa, é mais estrangeira. Em carta, o que fala não reconhece o som de suas palavras. Alice tem medo. Vive num tempo em que não pode mais fingir que não sabe da primazia das rasuras. Sim, acha que é meio assim, tem ódio da vida e medo da morte, odeia os instantes, as coisas e o movimento pendular do tempo (o ‘eu’ que diz e o ‘eu’ que escuta não são os mesmos; sempre, às vezes, a mesma sensação). Odeia a presença das pessoas e teme a solidão.