XXII.

Gostaria de poder falar de um certo gosto pelas tardes amarelecidas de domingo, quando até o vento se recusa a se mover. E outras coisas mais ainda. Ler cadernos de resenhas; dormir de olhos abertos; colecionar bilhetes de entrada de uma peça de teatro ou de um jogo de futebol a que assistiu na infância; ler O Inominável durante as férias; gostar de pescar, mas não de pegar peixe. E olha que, mesmo assim, o médico a deu o diagnóstico de “cotidiano muito restrito”. Bom, pelo menos ele concebeu que ela tinha um cotidiano. O que não se perdoa mesmo é alguém que sofre de “ausência de cotidiano”.