XXI.

Acordou hoje às 7h30, acordou e abriu as janelas, há meses que espera por isso. Sempre muito difícil para ela abrir as janelas. Céu nublado, frestado de sol (nesse dia em que Alice abra janelas, até mesmo comercial de margarida deve ter significado outro). Como se estivesse entre parênteses, ela, à janela, olhando o céu nublado e filetes de sol. Depois, o espelho, enquanto escova os dentes; o mais difícil de escovar os dentes é se haver com o espelho. Sentou-se, então, à escrivaninha logo após ter preparado o café. A xícara sobre a mesa, ainda como um espírito deixando o corpo nos desenhos animados. Tentava ignorar que não sabia como agir; como subterfúgio, forçava-se a concentrar no texto a havia iniciado na noite anterior, e pensava coisas tolas “Sou uma profissional, tenho um prazo para entregar isso”. Era um artigo científico e havia de fato um prazo para entregá-lo. “E daí?” – dizia o redemoinho que se construía em sua caixa craniana sempre que está imersa numa situação sem saída possível. Tudo porque encontrou numa gaveta, sem querer, aquele caderno que a dava esperanças de compreender os dias que a encarceraram por não ter sido o “eu” da casa.