XVIII.

Sabe que é um simples ato, como outro qualquer, enfileirar palavras e com elas entear as coisas. Um modo, talvez, de ludibriar certas verdades derradeiras; um modo, talvez, de dissimular com desculpa de não ser dissimulado. A dissimulação pertence a palavra, e ela já estava aí antes. Bem antes de lhe darem um nome, antes de ser alguém de um metro e sessenta e pouco, antes de se decidir a escutar o que dizem e o que entredizem os outros. Enfileirar palavras é um modo de existir entre tantos: tiritar entre o som de o sentido, auscultar esse tempo estranho em que o presente é o passado significando o futuro. Vive ensaiando coisas que a perturbem a ponto de esquecer a sua insônia.