¨ coisa de não-sentir?..

Acorda e vê que não está bem… que seu dia não será tão gracioso e completo;

Contenta-se em tentar entender e espera…

Os restos da manhã passam e o que era uma falta de compreensão vai ganhando dimensão; mas pouca ainda.

[começa com um leve formigamento na ponta do dedo]…

Passam-se horas e quando se da conta seus olhos enchem de lágrima e sente sufocar – suportável.

[já está se dando conta do que há]

Suas pernas então param de sentir o sentir do tempo e das ruas passarem. Pensa ser normal, pois coisas estranhas e doentias são feitas para pessoas… e por enquanto se considera uma.

Mas o sol se põe e passa a “viver” sozinho e sem garantias.
A noite chega em um lugar que costuma chamar de morada de algo não-suspeitável.

[e daí seguem-se os piores momentos]

Tenta sentar, não consegue…

Tenta se olhar no espelho buscando identificação, em vão…

Deita-se de modo que sua cabeça fique num nível um pouco abaixo do resto do corpo – que é pra se sentir mergulhando.

Gostava muito de mergulhar quando era infância. Nela havia uma mão que lhe guardava e dizia que ficaria bem e seguro.

[aos poucos vai retomando consciência]

Os olhos, antes turvos, abrem-se.

E se lembra como era a vida antes daquele dia… pensa nas pessoas que não estão ali no momento, resgatando as vivências na memória.

Vê que é um processo natural. Acredita que o que tem com as pessoas de sua vida de agora e de antes, de alguma forma, entra em comunhão.

[E até consegue dançar (chorando ainda). Mas sabe que são necessários a dança e o “ter com o que” chorar]

Eis aí uma criatura que por pouco não morre de saudades.