¨ minha infância borboleta..


A verdade é que temos um ciclo de vida bem diferente do das borboletas. Elas amadurecem nos seus casulos e abrem os olhos e asas para o mundo, jardim de tantas flores, e cores, e animais, beija-flores e mariposas. O ar deu fôlego ao crescimento das asas, em busca da absorção de liberdade. Gosto do contato, das sinestesias ímpares, mas perfeitas.
Eu, humana, nasci borboleta. Borboleta-pequenina. De várias cores, como as borboletas dançarinas de Vinícius. Nasci borboleta bailarina, feliz por viver entre outras borboletinhas inocentes e ansiosas pelo céu azul com nuvens de algodão.
Como a metamorfose das mariposas, transformou-se o jardim em pântano, alagadiços misteriosos que me traziam mais medo do que conforto. Fui virando borboleta castrada, sem tanta liberdade de vôo. Depois fui pegando gosto, ou me acostumei ao receio do antigo belo, passando a me recolher um pouco das minhas viagens de borboletinha.
Em pouco tempo, me recolhi a um casulo, o princípio de vida das verdadeiras borboletas, amáveis e não-humanas. Não-humanas por serem amáveis. Cresci naquela crosta protetora após a visão do pântano, dos animais selvagens, dos terrenos alagadiços, das nuvens em estado condensado.