¨ uma epifania..


Mesmo com a crise global, o aquecimento da Terra, o esquentamento dos oceanos, a extinção da ararinha-azul, o conflito na Cataluña, a guerra dos palestinos e israelenses e a Faixa de Gaza e todo o resto que, quando a gente pensa que tá entendendo, aparece algum conflito que quebra toda a lógica. E mesmo com a destruição dos povos indígenas e a miscigenação dos brasileiros, mesmo com a minha dificuldade de respirar fumaça nessa cidade-cão chamada Recife, Re-sífilis ou Hellcife; enfim, mesmo com o meu tempo contado, com o nosso tempo contado, com os relógios a contarem o tempo, mesmo com a comida meio-fria e mal-digerida; mesmo com a reforma ortográfica, que a gente ainda pena pra aprender, sem saber para quê reaprender uma língua já aprendida, já falada e cantada tão bem; e mesmo com toda a fama, toda a Brahma, como cantou Chico; mesmo com os peixes abissais ou as temperaturas nos Andes ou a civilização Mesopotâmica, ah!


Mesmo com todas essas enxurradas de informações que somos obrigados a engolir goela a baixo, existe aquela epifania da existência que nos toma em qualquer canto  na rua mesmo ou no ônibus. É quando olhamos pra toda aquela cena: espaço, tempo, personagens; e vemos quantas ilhas nos envolvem e o quão milagrosas devem ser as relações que nós constituímos, ou que foram constituídas por algo, alguém, o acaso ou, quem sabe, o ocaso. As ilhas anexadas.

Mas é. Por alguns segundos, sentir que montei o quebra-cabeça da vida, o mistério das relações, do cosmo, dos conceitos, subitamente, entender e desentender tudo o que existe faz-me sentir melhor. Me sustenta. Sustenta-me.