¨ se você pudesse ler..

Ah, Júlia, tenho saudade de sentar ao teu lado no portão da vila, olhando o movimento da rua, em silêncio. Saudade de sentir meu ombro encostado no teu, com o peso de um amor adivinhado.
Tantas coisas aconteceram e acontecem sem poder partilhar contigo: família, namoro, religião, amizades, estudos, dinheiro, ideias que borbulham...
Tenho saudade desse silêncio da gente se 'havendo' com a tarde, até ali tão povoada de futuros.
Futuros até aqui tão incandescentes ainda.
Eu ando fotografando com os olhos as tardes, as calçadas, os quintais, os terraços e os portões dos outros.
Sabe aquela nossa calçada de sentar em silêncio? Nunca mais fui lá.
Eu só queria, às vezes, que você soubesse...
Aliás, agora nem importa o que diríamos ou não.

E assim começa mais um ano.