¨ minhas queridas..

Elisa, querida:

[...] não pense que eu gosto de você porque estou longe e acrescento. É que quando estamos juntas não escrevemos cartas e parece que é escrevendo que se podem dizer certas coisas. Você tem razão, com a ideia do provisório não se pode fazer nada. E por isso é que a carta me faz bem, me dando uma lição.

Não me diga que não tem a pretensão de ter ascendência sobre mim, que é bobagem, meu bem. E por falar em bobagem, cito-lhe outra produzida pela mesma fonte, que é vocezinha: você diz que embora pareça incrível, você também já perseguiu miragens. Que burrinha você é! Se há pessoa em que se veja isso, é você. E não só você perseguiu, como persegue - o que vale como não ter mudado e ser fiel.


[trecho da carta que Clarice Lipector escreveu à sua irmã, Elisa, em Nápoles (Itália) no dia 12 de janeiro do ano de 1945, retirado do livro "Minhas Queridas".]