¨ dia sete..

Quer venha pela frente, quer venha por trás, quando o vento sopra forte, eu me inclino para a frente.
Quando caminho, há sempre um de meus pés que desaparece atrás de mim.
Conforme a parte do corpo que eu coce, produzo um som diferente.
Quando deslizo uma das mãos para baixo do travesseiro, antes de nele repousar minha cabeça, obtenho uma camada suplementar.
Com a mão direita ou com a esquerda, passando por sobre ou sob meus ombros, consigo atingir todos os pontos da superfície de minhas costas.
No verão, após permanecer sentada no terraço, muitas vezes constato, impresso na parte posterior de minhas coxas, o desenho da cadeira.
Quanto mais a poltrona em que me sento for baixa e acolchoada, mais os meus joelhos ficarão próximos de meu rosto.
Quando os caracteres impressos são muito pequenos, e as linhas muito cerradas, acompanho com o dedo as frases que leio em um livro.
Ainda que meu quarto seja um ambiente absolutamente escuro, fecho os olhos para dormir.
Mesmo quando olho “atrás de mim”, continuo a ver o que há diante dos meus olhos.
No instante em que mergulho meus pés na água fria, vejo mais nitidamenteo que me cerca, e meus pensamentos tornam-se mais claros.
Quando bebo, meu lábio inferior permanece seco.
Parada sob o sol, graças à posição de meu ombro, posso, de maneira aproximada, saber que horas são.
Ao beber um gole de água, atiro rapidamente minha cabeça para trás na hora de engolir um comprimido.
Observando uma pessoa sentada, no escuro, frente à tela de um computador ligado, noto que seu rosto fica com outras cores.
Quando assopro as velas de um bolo de aniversário, gosto antes de encher as bochechas de ar.
No verão, descubro às vezes uma formiga, ou uma mosca, passeando sobre minhas roupas.
Quando mordo uma fatia de melão, ela dissimula minha boca.
Se esfrego os olhos em pleno dia, a seguir pode-se acreditar que acabei de acordar.
Depois de tomar um banho, posso escrever meu nome sobre o espelho do banheiro.
Com um simples movimento de língua, desalojo um pedaço de amendoim preso entre dois dentes.
Quanto menor é o objeto que seguro – um prego, por exemplo – mais meu polegar e meu indicador ficam próximos um do outro.
Do lado esquerdo do indicador de minha mão direita, próximo a unha, há uma mínima protuberância, dura, seguida de um pequeno vão: é ali que posiciono a caneta quando escrevo.
Quando me ensabôo, as partes pilosas de meu corpo produzem espuma em abundância.
Quando cruzo as pernas embaixo da mesa, às vezes bato com o joelho.
Fechando meu olho esquerdo (ou direito), e envesgando o outro, consigo ver o meu nariz.
Erguendo o pescoço diante de um espelho e abaixando os olhos, consigo ver debaixo do meu queixo.
Quando como ao ar livre, ao vento, uma mecha de cabelos entra, às vezes, em minha boca aberta.
Com uma pilha de livros nos braços, subo uma escada sem olhar os degraus.
Posso produzir um barulho notável se continuo a sugar com o canudinho o líquido que resta no fundo de um copo.
Quando a maçaneta da porta fica à minha esquerda, eu puxo a porta; quando fica à direita, eu empurro a porta.
Olhando pelo buraco da fechadura, eu vejo sem ser visto, a não ser que haja alguém atrás de mim.
Percebo melhor a direção em que seguem as nuvens se paro de andar.
Quando uma garrafa está virada verticalmente sobre meus lábios, é que estou bebendo suas últimas gotas.
Mesmo se lançar uma maçã bem longe, ela acabará por cair.
Quando como um pão com manteiga, mordo-o e, depois, rasgo-o, em geral, da esquerda para a direita.
Quando como uma torrada muito crocante, não ouço tão bem o rádio.
Um pouco antes de adormecer completamente, tenho às vezes a sensação de descer, de uma só vez, três andares de elevador.
Há uma temperatura abaixo da qual não posso falar sem, ao mesmo tempo, produzir uma nuvem de vapor.
Durante um beijo, minhas papilas gustativas também entram em ação.

Gosto de fazer observações.