¨ relevo a falta de relevo..

Acho muito que vivemos uma realidade em braille, sabe? Uma existência relevante, em relevo, quero dizer. Lemos a nossa realidade como letras, sons, aliterações, aqui e ali. Uma vida para ser lida é a vida de todos nós, modernos, contemporâneos ou pós-contemporâneos - como queiram dizer os estudiosos do homem atual. Mas acho muito que as coisas não são tão planas, embotadas, grafadas planamente com tinta em uma folha de papel! Me assusto com a planificação das coisas, a superficialidade do mundo e das pessoas. Me assusto e me sinto isolada nesse susto de quem gosta, perfeitamente ou não, viciadamente, ou não, dos momentos e relações verticais. Não sei até que ponto essa profundidade é válida na liquidez do mundo. Mas, quando penso que já colhi bons frutos dessa postura – mais de necessidade que de adoção -, volto a acreditar na verdade das pessoas e nos laços longilíneos.

E penso: cadê a realidade em braille, pessoal? Cadê? Cadê?

Me pergunto: Como vocês conseguem... manter o silêncio, afastar a dor, controlar a felicidade, os desejos, as aspirações, criar couraças tão belas e enganosas, linear tanto a vida?

Essa é uma pergunta que paira em mim. Fato. Acho a existência tão relevante que me custa acreditar na superficialidade de tudo. Para mim, a realidade foi feita para ser tocada, como os cegos tocam a sua linguagem. O dedo foi feito para tocar na ferida, os dedos para acariciar os cabelos. As coisas foram feitas para serem tocadas, minha gente!

Não sei por que em um texto tão panfletário, apelativo, publicitário até, uma vez que está propagando o meuzinho ponto de vista, mas acho que é necessário um pedido ao braille, uma chance ao relevo.

Sejam cegos pela vida, filhinhos, mas não no meio de um tiroteio.