¨ Dedal de Areia..


O verdadeiro sim da poesia!

A principal marca do discurso poético de Antonio Brasileiro é a leveza.

Leveza que pode ser vista na linguagem alada, sem os lastros da erudição vazia ou do derramamento lírico. Seus poemas não cansam, levando o leitor numa leitura fluida, sem obstáculos e sem tropeços, num tom coloquial mesmo quando aborda questões mais densas.

Mas a leveza também está na maneira de olhar o homem e sua trajetória. Sabendo o que há de dor e esquecimento nesta estrutura de vento que somos, o poeta não se desespera, não se revolta, nem nega as possibilidades de realização nesta matéria mutável.

Os poemas de Brasileiro definem o homem e a poesia como “espuma”, arquitetura precária e bela, que se ergue das coisas como transcendência provisória, sem pretensões de permanência.

Numa concepção assim, em que tudo é regido pelo império do precário, o poeta não força sua linguagem para que ela seja mármore, monumento ou História. Daí o tom simples e arejado de seu discurso poético, num espaço próximo da conversa, num estilo à-vontade, mesmo nos momentos de maior rigor estrutural. O poeta não quer se impor, apenas testemunhar este humano estar, onde “tudo é rutilância”.

Se tivesse que escolher um poema para definir sua poética, seria “Redes brancas”. O sonho de construir um reino de sossego e sombras domésticas, espaço de realização plena do eu, aponta para esta rusticidade luminosa, em que as coisas adquirem o brilho da sua natureza mais nua. Assim, nesta casa-Pasárgada, ele instalaria “redes brancas”, dispositivo de ócio e contemplação. Tal simplicidade guarda parentesco com os poemas de Alberto Caeiro, que operam idêntica integração com o real.

Mas simplicidade não significa falta de profundidade, apenas uma maneira desinflamada de olhar. A sua não é uma poesia crepuscular e sim matinal, pois ele não reconhece a progressão cronológica, vendo tudo como inauguração: “Oh, que a vida é só começos, /endereços nunca havidos”. Esta postura produz uma poesia do sim.

Se são primorosos seus dísticos e seus poemas menores, o mais extenso deles – “O Cavaleiro” – apresenta o poeta como um Quixote, um homem que persiste em sua aventura de percorrer palavras, buscando a grandeza que muitas vezes está apenas em seus próprios olhos ensandecidos. Soma de outros cavaleiros, ele é um ser que existe mesmo no silêncio em que vive. Este seu isolamento demonstra que tudo, até o maior sucesso, é frágil. O poeta-quixote dialoga com seu escudeiro e se dá por satisfeito com este interlocutor, confessando escrever para os amigos.

Eu o indico, não necessáriamente para meus amigos particulares, mas, acima de tudo, para os amigos e amantes da poesia.