¨ agora prismático..

Eles estam espalhados aqui no meu quarto. O furacão é total, é constante, destrói a ordem (o que será da ordem senão o agora?), desestruturam os pilares e apenas deixam visíveis os restos, os fragmentos de uma memória outrora completa. Embaixo da cama, da cadeira, sobre o travesseiro, na própria pele: somente os espectros de um prisma que não se encontra, ou se encontra perdido no emaranhado da mente, diluído em outros prismas maiores, construídos pela mesma entidade biológica em diferentes estados de espírito. Está tudo espalhado, desorganizado, carente daquela necessidade do ser humano de querer entender tudo, de catalogar, de saber o começo, o meio e o fim. Tá aqui na pele, no suor, no cheiro, a gente se carrega feito cruz, feito karma, a gente tem um mal de alz-heimer para resto da vida, um mal que nos deixa a herança de uma vida vivida apenas nos espectros de um prisma que já foi concreto no agora e que hoje se emaranha nas infinitas dobras de neurônios, axônios e dentritos, ou até nem mais existia. A verdade (ou inverdade consoladora? sentença fabricada por quem sempre quer saber o iníncio, meio e fim?) é que após a bebedeira, a passagem, o carro, o livro, o sexo, somos somente uma essência, um concreto mais fluido que se imagina, um nada pretenso a tudo, uma interrogação constante e - talvez - eterna, se houver crença. Mas a vida enquanto vida está aí: os prismas estam no agora, que agora já é passado, e agora o prisma do passado já é espectro de prisma, porque somente quem não é humano consegue descrever os prismas como eles sempre foram, cada cateto, ângulo e inclinação. O ser humano mesmo aquece o prisma que já viveu, deixa o espectro tomar conta do quarto, da pele, do cheiro, e desse espectro ele se constrói, se torna outro espectro maior, mas não menos fuido, não menos perecível e inconstante que o mais pequenino dos espectros de prisma.