¨ revisited..

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, meu Deus, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu a todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doida, com todo o direito a sê-la.
Com todo o direito a sê-la, ok?

Não me alisem, por amor a Deus!
Queriam-me pura, celebatária, fútil, quotidiana e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinha para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinha.
Já disse que sou sozinha!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio tejo' ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz!

-Não tardo, eu nunca tardo...
-E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!