¨ namorar é..

uma arte. Tem que ter criatividade, inspiração e, principalmente, talento. Porque namorar não é para qualquer um, isto é, não basta dividir a conta no restaurante e cultivar a foda fixa nos finais de semana: tem que fazer a comida e o sexo vira amor, a cama de casa, o corpo limpo e a alma em simbiose. Porque não vale ser comedido nas reações para evitar o pranto, tem que extravasar no grito mesmo, tem que dar o nó na garganta, a vontade de chorar e a inconformidade, tem que ficar quente de raiva para que depois venha o amor a dilacerar novamente e a paz se instalar e tudo voltar a ser como um rio antes da tempestade.

Definitivamente: namorar não é para qualquer um.

Namorar exige criação de dias, de possibilidades, de meias-verdades bem-intencionadas, de novas palavras, para que o significado destas não se perca e, como conseqüência, o ‘Eu te amo’ ou o ‘Quero você’ tenha valor semântico, som e, acima de tudo, a confissão no pé, nas pernas e nos braços do ouvido.

Exige inspiração. Exige amnésia. Exige humildade. Exige isso e muito mais para contornar mágoas e más-lembranças. Exige jogo de cintura, às vezes usado para uma imposição, às vezes para um menos humilhante pedido de desculpas (para os geniosos que associam desculpas à humilhação – viva, viva!).

Namorar exige talento, afinal, como eu disse, não é para qualquer um. Talento é aquilo que brota no indivíduo assim que este rasga o ventre da mãe. E, se uns têm talento para o cálculo, para a dança ou música, outros nascem com talento para namorar. Essas pessoas adoram dar satisfação, amam ser dependentes, detestam uma vida social muito ativa e morrem de ciúme, além de atenderem aos pré-requisitos anteriormente citados.

Namorar é, sim, uma arte. Não importa se a obra foi congruente ou não, porque Arte é Arte e, nas ruas ou nas galerias, sempre há um lugar onde podemos encontrá-la. Mas saindo desse papo de Arte... Namorar, definitivamente, não é para qualquer um.