¨ a esta hora..


É tudo - a esta hora - novo - à aurora
e os cães fazem silêncio -
como os pássaros.
É tudo - a esta hora -
mais tranqüilo -
até que o contragolpe - o soco ao ventre -
acorda - súbito - os homens -
que mantinham
vivos os sonhos - para o mundo -
à aurora.
Num outro canto - sempre renovado -
havia um verso a mais -
um estrambote
No entanto - agora -
a esta hora - o verso
não pode mais cantar como cantava.
O sonho torna vivo o morto -
a morte -
e acorda os homens - que viviam sonhos.
O verso que faltava -
o verso pede -
é vivo - embora morto - embora ausente.
É vivo como os homens -
que comiam
os sonhos - como os cães comem a lua -
e agora estão despertos -
mais pesados -
que a alma lhes regressa - a esta hora.
A esta hora - à aurora
o mundo é novo
e o homem - redivivo - morre aos poucos.